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segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Morcego, um mamífero mal compreendido


Morcego, um mamífero mal compreendido


Agricultores costumam demonizá-los, atribuindo a eles até mau agouro, enquanto desconhecem os serviços que prestam ao meio ambiente, à agricultura e à pecuária.
Afinal, quem é esse carinha esquisito que só sai à noite, dorme de cabeça para baixo e já nasce com um sofisticadíssimo sonar?
Raposa voadora
O morcego não é um rato, nem inseto, nem anjo, nem demônio. Pertence à ordem dos Quirópteros, do grego kyros=mão + ptero=asa. Há somente duas subordens: a Microchiroptera, a qual pertencem os morcegos verdadeiros, e aMegachiroptera, as raposas-voadoras, encontradas na África, Oceania e Ásia. Somente esta subordem apresenta espécies de tamanhos maiores, chamados de “morcego-gigante”. Não possui exemplares hematófagos, e alguns se alimentam de peixes. Somente na Malásia, 22 mil destes animais são abatidos legalmente todo ano para fins de alimentação, e um número não definido é abatido ilegalmente, inclusive em época de reprodução.
Embora a maioria dos morcegos se alimentem de insetos e outros de frutas, a fama desses mamíferos voadores está relacionada ao fato de sugarem sangue! É verdade que os chamados morcegos vampiros existem. Mas você verá que não há razões para ter medo. Longe da má reputação do Conde Drácula, esses animais são grandes parceiros da natureza.
Os morcegos são os mais importantes controladores dos insetos voadores noturnos, incluindo-se os mosquitos e muitas pragas agrícolas. São animais de hábitos noturnos e sem nenhuma característica aparente que os torne atrativos pela população.
Apenas um morcego insetívoro é capaz de comer até 500 mosquitos em uma hora, ou seja, quase 5 mil insetos por noite. Como exemplo, podemos citar o fato de que os 20 milhões de morcegos-de-cauda-livre que habitam a Caverna de Bracken, no Texas, protegem os fazendeiros locais comendo 250 toneladas de insetos por noite!
Morcego insetívoro: orelhas maiores para localizar a presa pelo sonar
Todo este consumo de insetos, felizmente, contribui significativamente para a redução do uso de venenos químicos utilizados nas plantações, o que significa comida mais saudável para todos nós.
Morcego pescador
Há pelo menos 40 milhões de anos, eles se alimentam do pólen e do néctar das flores. A dieta pode ter se iniciado por acaso. Os biólogos acreditam que os primeiros morcegos alimentavam-se apenas de insetos. Com o passar do tempo, aconteceram mudanças em algumas espécies: uns passaram a compor sua dieta apenas de frutas (frugívoros), enquanto outros, atraídos pelos insetos pousados nas flores, acabaram utilizando-se também do néctar, complementando, assim, o seu cardápio. Há morcegos que pescam com suas garras e se alimentam de peixes e camarões.
Hoje, estima-se que 99% das espécies de morcegos dependem parcial ou totalmente das plantas como fonte de alimento. Como já mencionado, as plantas também dependem dos morcegos. Afinal, os que se alimentam de frutas podem deixar cair sementes durante o transporte, fazendo com que nova planta nasça em um novo local. Há sementes que necessitam passar pelo sistema digestório de algum animal para germinarem posteriormente. O morcego é um grande disseminador de sementes, pois tem o hábito de defecar em pleno voo (afinal, como dorme de cabeça para baixo, não defeca durante o dia).
Nectarívoro
Já os que sugam o néctar das angiospermas – plantas produtoras de flores – enfiam a cabeça nas flores, carregando consigo o pólen. Ao pousarem em outra flor, deixam nela grãos de pólen que permitirão sua reprodução.
Para se ter uma ideia da importância dos morcegos para a vegetação do planeta, basta dizer que cerca de dois terços das angiospermas das florestas tropicais do mundo são polinizadas por eles. A dispersão das sementes também faz com que eles sejam os principais responsáveis pela regeneração de florestas degradadas.
Em seu ambiente silvestre, muitas plantas que produzem frutos de importância na agricultura dependem dos morcegos para polinização e dispersão de suas sementes. No México, por exemplo, os morcegos são polinizadores de cactos usados na confecção da tequila. No Brasil, eles polinizam espécies como pequi, alguns maracujás nativos, piquiá, sumaúma, munguba, jatobá, xiquexique, facheiro, caju, figo, banana, manga, tâmara, bromélias e muitas outras.
Estudos desenvolvidos na Embrapa Cerrados mostram que pelo menos 268 espécies de plantas cuja dispersão das sementes é feita por animais (zoocoria) e que são encontradas em matas de galeria, 34 delas (13%) são dependentes dos morcegos (quiropterocoria). É possível coletar sementes das fezes desses animais, já com a dormência quebrada, e selecionar sementes de espécies nativas, que apresentem também potencial para retorno financeiro, e utilizá-las para a recuperação de áreas degradadas e reflorestamento.
Das cerca de mil espécies de morcego que existem no mundo, 70% se alimentam de insetos. Apenas três delas se alimentam de sangue (hematófagos):
Desmodus rotundus, o mais comum no Brasil, habita a América do Sul e México, ataca mais os mamíferos;
Diphylla ecaudata, se alimenta de sangue de aves que pousam em árvores, cortando e lambendo suas pernas. É considerado em extinção no Paraná, principalmente por causa da degradação das florestas; e
Hematófago no mamilo de uma porca
Diaemus youngii, localmente raro no Brasil, ocorrendo na Bacia Amazônica e norte da Argentina, também ataca preferencialmente aves silvestres.
Na página da Sociedade Brasileira para o Estudo de Quirópteros é possível acessar uma lista se boas páginas com informações científicas, como é o caso da “Casa dos Morcegos”, em português (as melhores estão em inglês).
Os morcegos “vampiros” estão ajudando pesquisas científicas na busca de novos medicamentos para doenças do coração, devido a existência de uma potente substância anticoagulante na saliva destes animais.
Hematófago: incisivos afiados para o pequeno corte
Na área urbana, você não encontrará um morcego “vampiro”! Eles não toleram a luz. Ficam restritos à mata. Poderá estar exposto o humano que entrar na mata, e mesmo assim terá de ficar quietinho, dormindo, e provavelmente embriagado, para não sentir o morcego lhe perfurar a pele. Mas um hematófago entrar pela janela e “chupar” o sangue da sua jugular, nunca!
Em todos os tempos, não existe sequer um registro no Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo, de que algum humano tivesse contraído o vírus da raiva através da transmissão do morcego. Assista a um vídeo interessante sobre isso produzido pela referida entidade.
Identificação pelo voo
Através da observação do voo dos morcegos, você poderá identificar com certa precisão se ele é frugívoro, insetívoro ou hematófago.
A partir do pôr do sol, em um local onde haja uma fonte de luz artificial, pode-se ver a movimentação.
Os morcegos insetívoros são os primeiros a estarem ativos, podendo ser observados até antes do pôr-do-sol nos dias de inverno. 

Podem voar a meia altura próximo a locais com água, como fontes, lagos e riachos, em clareiras. Outras espécies voam somente sobre a copa das árvores. Emitem sons curtos, repetitivos e agudos.
Suas asas são mais estreitas e compridas, objetivando um voo rápido e ágil para capturar suas presas. Têm orelhas maiores que os outros, para aumentar a precisão na detecção da presa em movimento.
Os frugívoros e nectarívoros aparecem logo após o crepúsculo, e limitam-se a executar muitas voltas próximo à copa das árvores. Emitem sons isolados, mais longos e muito altos. Frugívoros necessitam asas mais potentes para transportar frutas, pois não as devoram no local de colheita. Seu voo, porém, não é muito ágil e um pouco 'barulhento'. Possui orelhas menores que os insetívoros.
Os hematófagos nunca aparecem onde há luz, só abandonam seu abrigo após a completa escuridão, voam a cerca de um metro de altura, em linha reta, rumo ao local onde já sabe estar dormindo sua presa. Não emitem sons durante sua jornada para não alertar a vítima.

Curiosidades

  • Morcegos não são cegos. Apesar de usarem principalmente o 'radar' em seus velozes voos noturnos, possuem uma boa visão. As raposas voadoras não possuem radar. 
  • O menor mamífero do mundo
    O menor mamífero do mundo é o morcego insetívoro Craseonycteris thonglongyai, que mede cerca de 3 centímetros e vive na Tailândia e Myanmar.
  • Em muitos lugares do mundo, onde há mais esclarecimento sobre a importância destes animais, constroem-se casinhas para morcegos, chamadas 'bat-houses", assim como nós oferecemos ninhos para passarinhos.
  • As fezes dos morcegos foram muito usadas no século passado para fabricação de pólvora, e seu esterco foi largamente utilizado como fertilizante antes do advento dos adubos químicos.
  • Os hematófagos não chupam o sangue de suas vítimas. Fazem uma leve raspagem na pele com os dentes incisivos (não usam os caninos), e depois vão lambendo o sangue que escorre. Sua saliva possui um poderoso anticoagulante. E não são eles que fazem tranças em crinas de cavalos, mas sim o vento que os embaraça nas cavalgadas.
  • Há morcegos de pelagem clara, como é o caso do Ectophilla alba, o morcego-branco-de-Honduras, que vive na América Central e Caribe.
  • O morcego não consegue alçar voo a partir do solo. Os músculos de suas pernas não são suficientes sequer para o impulso. Lançando-se de um local onde estão pendurados de cabeça para baixo, fica mais fácil...
  • É muito comum uma mãe morcego adotar um filhote que tenha ficado órfão. É só uma fêmea não voltar ao abrigo no final da noite que aparecem várias candidatas à adoção.

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