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quinta-feira, 22 de novembro de 2012

O que é o cão de Pavlov?


É o protagonista de uma experiência revolucionária, que aconteceu há 100 anos e mudou a forma como o ser humano enxerga a si mesmo. Na verdade, não havia apenas um cão nessa história, mas vários. À primeira vista, a coisa parece banal. Um célebre médico russo do início do século 20, chamado Ivan Pavlov, treinou cachorros para que eles ficassem com água na boca sem que houvesse nenhuma comida por perto. A coisa funcionava assim: toda vez que os bichos eram alimentados, o médico tocava uma sineta. Com o tempo, os cães começaram a associar as badaladas à comida. E chegavam a babar famintos só de ouvir o sino, mesmo que o prato deles estivesse vazio. Muitos podem lembrar que já ensinaram truques parecidos para seus cãozinhos, mas a experiência de Pavlov tinha um propósito bem mais nobre do que disciplinar o melhor amigo do homem. A idéia do médico russo era propor uma novidade científica: os reflexos condicionados.
Os seres vivos já nascem com certos reflexos - em outras palavras, são programados para terem determinadas reações diante de situações específicas. Se um surfista no mar tromba com um tubarão, por exemplo, seus músculos ficam tensos e sua atenção, pra lá de redobrada. Afinal, o corpo dele concentra energia automaticamente para fugir daquela ameaçadora boca cheia de dentes. Isso é uma amostra clássica de um reflexo natural. O que Pavlov descobriu é que esses reflexos também podem ser criados do nada, sem um motivo concreto para eles entrarem em ação, além de não funcionarem apenas com animais. Lembra o filme Tubarão, dirigido por Steven Spielberg em 1975? Sempre tocava a mesma trilha sonora de suspense antes de o tubarão-protagonista atacar algum personagem. Chega uma hora no filme em que as notas musicais, sozinhas, já metem medo nos espectadores, mesmo que nem haja um tubarão na cena.
"Os espectadores, nesse caso, reagem como os cães de Pavlov: ficam tensos ao ouvir a música quando percebem, ao longo do filme, que ela indica morte", diz o psicólogo Edward Kardas, da Universidade Southern Arkansas, nos Estados Unidos. Enfim, Pavlov descobriu que esse tipo de condicionamento pode ser a base do comportamento humano. E de vários problemas da nossa mente. Segundo ele, os psicóticos sofreriam mais do que as pessoas comuns justamente por causa do condicionamento. Por algum motivo, eles perceberiam qualquer estímulo externo, como um singelo "bom-dia!", como uma forma de agressão. As pesquisas do médico russo também chegaram a lugares bem distantes dos consultórios. A própria publicidade usa essas descobertas a seu favor. Por exemplo: quando algum comercial tenta associar a idéia de liberdade com a imagem de uma marca de cigarro ou a de felicidade com uma rede de fast-food, as idéias do russo estão lá, bem no fundo.
Afinal, como os cães de Pavlov, nós também podemos ser treinados para babar à toa...
Carreira versátilO médico russo ganhou o Nobel por outras descobertas
Ivan Petrovich Pavlov nasceu em Ryazan, na Rússia, em 1849. Ele se tornou médico e, apesar de famoso por desenvolver o conceito do reflexo condicionado, ganhou o Nobel de medicina, em 1904, por suas descobertas sobre outro tema: o funcionamento do sistema digestivo. Seus estudos sobre o reflexo usando cães foram publicados um ano antes do prêmio, em 1903. Pavlov morreu em 1936.
Experiência reveladoraAnimais eram condicionados para reagir ao barulho de uma sineta
1. Quando um cachorro vê sua comida, tem o reflexo natural de botar seu sistema digestivo para funcionar. Então ele baba. A saliva, afinal, é a primeira substância que age para digerir o alimento
2. A experiência de Pavlov começou com o cientista tocando uma sineta antes de cada refeição que os cachorros do seu laboratório recebiam. Depois que isso aconteceu várias vezes - o número era diferente para cada animal testado -, os cães ficavam condicionados a babar só de ouvir a sineta, mesmo que não tivessem ganhado nada para comer
3. Isso não quer dizer que os animais ficariam salivando para o resto da vida, sempre que ouvissem uma sineta. Se eles se acostumassem de novo a ouvir o som sem ver a comida por perto, não iriam babar mais. Acabaria o reflexo ao qual foram condicionados
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