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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Relações Ecológicas - Resumo

Relações ecológicas

Nas comunidades bióticas dentro de um ecossistema encontram-se várias formas de interações entre os seres vivos que as formam, denominadas relações ecológicas ou intera(c)ções biológicas. Essas relações se diferenciam pelos tipos de dependência que os organismos vivos mantêm entre si. Algumas dessas interações se caracterizam pelo benefício mútuo de ambos os seres vivos, ou de apenas um deles, sem o prejuízo do outro. Essas relações são denominadas harmônicas ou positivas.
Outras formas de interações são caracterizadas pelo prejuízo de um de seus participantes em benefício do outro. Esses tipos de relações recebem o nome de desarmônicas ou negativas.
Tanto as relações harmônicas como as desarmônicas podem ocorrer entre indivíduos da mesma espécie e indivíduos de espécies diferentes. Quando as interações ocorrem entre organismos da mesma espécie, são denominadas relações intra-específicas ou homotípicas. Quando as relações acontecem entre organismos de espécies diferentes, recebem o nome de interespecíficas ou heterotípicas.
Relações intra-específicas harmônicas
Sociedades
As sociedades são associações entre indivíduos da mesma espécie, organizados de um modo cooperativo e não ligados anatomicamente. Os indivíduos componentes de uma sociedade, denominados sociais, se mantêm unidos graças aos estímulos recíprocos. São exemplos de sociedades as abelhas, os cupins e as formigas.
Colônias
Quando as colônias são constituídas por organismos que apresentam a mesma forma, não ocorre divisão de trabalho. Todos os indivíduos são iguais e executam todas as funções vitais. Essas colônias são denominadas isomorfas. Como exemplo, podem ser citadas as colônias de corais (celenterados), de crustáceos do gênero Balanus (as cracas), de certos protozoários, bactérias, entre outros.
Quando as colônias são formadas por indivíduos com formas e funções distintas, ocorre uma divisão de trabalho. Essas colônias são denominadas heteromorfas. Um ótimo exemplo é o celenterado da espécie Phisalia caravela, popularmente conhecida por "caravelas". Elas formam colônias com indivíduos especializados na proteção e defesa (os dactilozóides), na reprodução (os gonozóides), na natação (os nectozóides), na flutuação (os pneumozóides), e na alimentação (os gastrozóides).
Relações Intra-específicas Desarmônicas
Canibalismo
Canibalismo é uma relação estabelecida por seres de uma espécie que comem outros seres de sua própria espécie. Em situação de completa falta de alimento, por exemplo, ratos podem comer seus próprios filhotes. Outro exemplo é o da aranha popularmente conhecida como viúva-negra, que logo após o acasalamento, devora o macho. Também há o caso do louva-deus, em que a fêmea devora a cabeça do macho após o acasalamento, em um ritual canibalistico.
Relações Interespecíficas Harmônicas
Mutualismo ou Simbiose
A Simbiose ou mutualismo é uma relação entre indivíduos de espécies diferentes, onde as duas espécies envolvidas são beneficiadas e a associação é necessária para a sobrevivência de ambas. Um bom exemplo desta relação é a associação de algas e fungos formando os liquens. Outro exemplo é a relação entre os cupins e os protozoários. Os cupins, ao comerem a madeira, não conseguem digerir a celulose, mas em seu intestino vivem os protozoários (Triconinfas), capazes de digeri-la. Os protozoários, ao digerirem a celulose, permitem que os cupins aproveitem essa substância como alimento. Dessa forma, os cupins atuam como fonte indireta de alimentos e como "residência" para os protozoários.
Protocooperação (cooperação)
A protocooperação, embora as duas espécies envolvidas sejam beneficiadas, elas podem viver de modo independente, sem que isso as prejudique.
Um dos mais conhecidos exemplos de protocooperação é a associação entre a anêmona-do-mar e o paguro, um crustáceo semelhante ao caranguejo, também conhecido como bernardo-eremita ou ermitão. O paguro tem o corpo mole e costuma ocupar o interior de conchas abandonadas de gastrópodes. Sobre a concha, costumam instalar-se uma ou mais anêmonas-do-mar (actínias). Dessa união, surge o benefício mútuo: a anêmona possui células urticantes, que afugentam os predadores do paguro, e este, ao se deslocar, possibilita à anêmona uma melhor exploração do espaço, em busca de alimento.
Outro exemplo é o de alguns animais que promovem a dispersão de sementes de plantas, comendo seus frutos e evacuando suas sementes em local distante, e a ação de insetos que procuram o néctar das flores e contribuem involuntariamente para a polinização das plantas.
Há também a relação entre o anu e os bovinos, onde o anu, uma ave, se alimenta de carrapatos existentes na pele dos bovinos, livrando-os de indesejáveis parasitas.
Um outro exemplo também é o passáro-palito e o jacaré. O jacaré abre a sua boca e o pássaro-palito entra nela, mas não é devorado porque se ele for devorado o jacaré ficará com os dentes podres e não poderá mais comer outros animais.Ao mesmo tempo que o pássaro-palito ajuda o jacaré limpando os seus dentes, ele se alimenta com o resto da comida que há dentro da boca e dos dentes do jacaré assim os dois se beneficiam de algum modo.
Inquilinismo ou Epibioses

O inquilinismo é um tipo de associação em que apenas um dos participantes se beneficia, sem, no entanto, causar qualquer prejuízo ao outro. Nesse caso, a espécie beneficiada obtém abrigo ou, ainda, suporte no corpo da espécie hospedeira, e é chamada de inquilino. Um exemplo típico é a associação entre orquídeas e árvores. Vivendo no alto das árvores, que lhe servem de suporte, as orquídeas encontram condições ideais de luminosidade para o seu desenvolvimento, e a árvore não é prejudicada. Outro exemplo é o do fierasfer, um pequeno peixe que vive dentro do corpo do pepino-do-mar (Holoturia). Para alimentar-se, o fierasfer sai do pepino-do-mar e depois volta. Assim, o peixe encontra proteção no corpo do pepino-do-mar, o qual, por sua vez, não recebe benefício nem sofre desvantagem.
Comensalismo
O comensalismo é a associação entre indivíduos de espécies diferentes na qual um deles aproveita os restos alimentares do outro sem prejudicá-lo. O animal que aproveita os restos alimentares é denominado comensal. Exemplo de comensalismo muito citado é o que ocorre entre a rêmora e o tubarão. A rêmora ou peixe-piolho é um peixe ósseo que apresenta a nadadeira dorsal transformada em ventosa, com a qual se fixa ao corpo do tubarão. A rêmora é transportada pelo tubarão, o que lhe proporciona significativa economia de energia, ao passo que o tubarão não é prejudicado, uma vez que o peso da rêmora é relativamente insignificante. Diz-se que a rêmora se alimenta dos restos alimentares do tubarão.
Um outro exemplo é o das hienas, que se aproveitam de restos deixados pelo leão.






Relações Interespecíficas Desarmônicas

Amensalismo ou Antibiose
O amensalismo ou antibiose consiste numa relação desarmônica em que indivíduos de uma população secretam substâncias que inibem ou impedem o desenvolvimento de indivíduos de populações de outras espécies.
É o caso bem conhecido dos antibióticos, que, produzidos por fungos, impedem a multiplicação das bactérias. Esses antibióticos são largamente utilizados pela medicina, no combate às infecções bacterianas. O mais antigo antibiótico que se conhece é a penicilina, substância produzida pelo fungo Penicillium notatum.
Outro caso de amensalismo é conhecido por maré vermelha. Sob determinadas condições ambientais, certas algas marinhas microscópicas, do grupo dos dinoflagelados, produtores de substâncias altamente tóxicas, apresentam intensa proliferação, formando enormes manchas vermelhas no oceano. Por essa razão, a concentração dessas substâncias tóxicas aumenta, provocando grande mortalidade de animais marinhos.
Sinfilia ou Esclavagismo
A sinfilia é a interação desarmônica na qual uma espécie captura e faz uso do trabalho, das atividades e até dos alimentos de outra espécie. Um exemplo é a relação entre formigas e os pulgões. Os pulgões são parasitas de certos vegetais, e se alimentam da seiva elaborada que retiram dos vasos liberinos das plantas. A seiva elaborada é rica em açúcares e pobre em aminoácidos. Por absorverem muito açúcar, os pulgões eliminam o seu excesso pelo ânus. Esse açúcar eliminado é aproveitado pelas formigas, que chegam a acariciar com suas antenas o abdômen dos pulgões, fazendo-os eliminar mais açúcar. As formigas transportam os pulgões para os seus formigueiros e os colocam sobre raízes delicadas, para que delas retirem a seiva elaborada. Muitas vezes as formigas cuidam da prole dos pulgões para que no futuro, escravizando-os, obtenham açúcar. Quando se leva em consideração o fato das formigas protegerem os pulgões das joaninhas, a interação é harmônica, sendo um tipo de protocooperação.
Predatismo
Predatismo ou predação é uma relação desarmônica em que um animal captura e mata um indivíduo de outra espécie, para alimentar-se.
Todos os carnívoros são animais predadores. É o que acontece com o leão, o lobo, o tigre, a onça, que caçam veados, zebras e tantos outros animais.
O predador pode atacar e devorar também plantas, como acontece com o gafanhoto, que, em bandos, devora rapidamente toda uma plantação. Nos casos em que a espécie predada é vegetal, costuma-se dar ao predatismo o nome de herbivorismo.
Raros são os casos em que o predador é uma planta. As plantas carnívoras, no entanto, são excelentes exemplos, pois aprisionam e digerem principalmente insetos.
Algumas espécies desenvolveram adaptações para se defenderem ao predatismo:
Mimetismo é uma forma de adaptação que muitas espécies se tornam semelhantes a outras, disso obtendo algumas vantagens. Ex.: a cobra falsa-coral é confundida com a coral-verdadeira, muito temida, e, graças a isso, não é importunada pela maioria das outras espécies.
Camuflagem é uma forma de adaptação morfológica pela qual uma espécie procura confundir suas vítimas ou seus agressores revelando cor(es) e/ou forma(s) semelhante(s) a coisas do ambiente. Ex.: o louva-a-deus, que é um poderoso predador, se assemelha a folhas; o bicho-pau assemelha-se a galhos, confundindo seus predadores.
Aposematismo trata-se de espécies que exibem cores de advertência, cores vivas e marcantes para afastar seus possíveis predadores, que já a reconhecem pelo gosto desagradável ou pelos venenos que possui. Ex.: muitas rãs apresentam cores vivas que indicam veneno ou gosto ruim.
Parasitismo
Parasitismo é uma relação desarmônica entre seres de espécies diferentes, em que um deles, denominado parasita, vive no corpo do outro, denominado hospedeiro, do qual retira alimentos.
Embora os parasitas possam causar a morte dos hospedeiros, de modo geral trazem-lhe apenas prejuízos.
Quanto à localização no corpo do hospedeiro, os parasitas podem ser classificados em ectoparasitas (externos) e endoparasitas (internos).
Os exemplos mais comuns de ectoparasitas são os piolhos, os carrapatos, o cravo da pele, o bicho-de-pé e o bicho da sarna, além de outros. Como exemplos de endoparasitas, há o plasmódio e o tripanossomo, protozoários causadores, respectivamente, da malária e da doença de Chagas. São exemplos, também, os vírus, causadores de várias doenças, desde a gripe até a febre amarela e a AIDS.
Relações Intra-específicas e Interespecíficas
Competição
A competição compreende a interação ecológica em que indivíduos da mesma espécie ou de espécies diferentes disputam alguma coisa, como alimento, território, luminosidade, entre outros. Logo, a competição pode ser intra-específica ou interespecífica. Em ambos os casos, esse tipo de interação favorece um processo seletivo que culmina, geralmente, com a preservação das formas de vida mais bem adaptadas ao meio ambiente, e com a extinção de indivíduos com baixo poder adaptativo. Assim, a competição constitui um fator regulador da densidade populacional, contribuindo para evitar a superpopulação das espécies.

Texto Complementar nº 01
Mutualismo, cooperação ou oportunismo?
Organismos de grupos muito distintos estabelecem por vezes relações complexas entre si, nalguns casos de total interdependência. As formas de cooperação, pelo menos aparente, são dos resultados mais fascinantes da evolução da vida.
Alexandre Vaz



Líquens em árvores

No mundo natural, quase todos os seres vivem embrenhados numa complexa teia de relações que se estabelecem entre representantes dos diferentes grupos taxonómicos. As relações de predador-presa, herbívoro-planta e de parasita-hospedeiro, são um exemplo disso mesmo. Em todos estes casos, há uma característica em comum: entre os parceiros destas relações existe uma pressão selectiva comum, mas em sentidos opostos. Ou seja, à pressão imposta pelos predadores, herbívoros e parasitas, sobre as presas, as plantas e os hospedeiros, estes últimos respondem com uma contra adaptação para evitar a pressão.


Pelo contrário, no caso das relações mutualísticas, ambos os parceiros beneficiam das pressões selectivas recíprocas, através de um processo que se designa por co-evolução. O que na prática quer dizer que se ajudam mutuamente. Dentro do mutualismo existem muitas modalidades diferentes, mas o factor comum que conduziu os diferentes organismos a evoluir neste sentido permanece ainda por explicar. Na verdade, verifica-se que muitas relações mutualísticas são mais explorações recíprocas, do que esforços cooperativos entre indivíduos.
Em todo o caso, este tipo de relação atrai de forma particular a atenção dos humanos, que facilmente encontram aqui uma analogia com sentimentos como a amizade ou o altruísmo. Mesmo assim se nos debruçarmos mais profundamente sobre o paralelo, as conclusões sobre o porquê da amizade poderiam ser também algo desconcertantes: será que amizade é motivada por questões de altruísmo ou de egoísmo? Afinal, se calhar até as próprias relações entre as pessoas se podem arrumar, pelo menos de forma metafórica, dentro das categorias: predação, parasitismo e mutualismo…





Morcego como agente polinizador ou disseminador de sementes
O mutualismo pode, ser ou não simbiótico e pode ser facultativo ou obrigatório. O mutualismo simbiótico, ou simplesmente simbiose, é aquele em que ambos os organismos vivem juntos numa associação física muito próxima e em que pelo menos um deles não poderia viver independente do outro. A simbiose é por isso sempre um caso de mutualismo obrigatório.





Na verdade, apesar das relações de simbiose existirem um pouco por todo o lado, na sua maioria não são nada óbvias, e muitas vezes utiliza-se essa designação (simbiose) de forma abusiva para outros tipos de mutualismo. As relações entre organismos simbiontes são por vezes tão profundas que chega a ser difícil distingui-los. Um exemplo disso é uma associação de algas e fungos que constitui os líquenes. Também no coral, os Celenterados associam-se a algas que lhes fornecem mais de 80% da energia de que necessitam, em troca da retenção de nutrientes essenciais que provêm da sua habilidade em capturar o zooplancton em suspensão no Oceano. Nas raízes de muitas plantas, que vivem em solos pobres, estabelecem-se relações simbióticas com fungos, que em troca da energia fotossintética fornecida pelas plantas fornecem nutrientes minerais que captam do solo.


O mutualismo obrigatório não simbiótico é um tipo de mutualismo mais frequente do que o anterior. Neste caso, os intervenientes dependem um do outro para sobreviver mas não vivem fisicamente tão próximos. A polinização de flores e a dispersão de sementes está em alguns casos absolutamente dependente de um agente, que pode ser um insecto, uma ave, ou outro animal, que dependa desse recurso, néctar, pólen ou fruto, para sobreviver. Também algumas espécies de formigas vivem dentro dos troncos de árvores, que para alem de abrigo, lhes fornecem alimento através de substâncias açucarinas que segregam, em troca de protecção contra insectos desfolhadores. Também as térmitas da savana africana criam fungos dentro dos seus ninhos, que lá encontram as características indispensáveis para se desenvolverem e que lhes degradam parcialmente o alimento.

O mutualismo facultativo ou oportunista não só é o mais frequente, como provavelmente o mais visível de todos os tipos de mutualismo, já que opera em maior escala ao nível dos animais vertebrados.
Para muitas plantas, apesar de não ser a única forma de se reproduzirem, a ajuda prestada por alguns animais torna-se preciosa e em troca fornecem-lhes alimento. Noutros casos, como em alguma orquídeas de florestas tropicais, as flores não fornecem qualquer alimento aos machos das abelhas que as polinizam. Em vez disso, os machos encontram no interior das flores fragrâncias segregadas por células específicas, que utilizam para desenvolver as suas próprias feromonas para atrair as fêmeas. Como essas abelhas visitam orquídeas de diferentes espécies, estas estão adaptadas de forma a que o pólen se deposite numa parte específica do corpo da abelha, de forma a esta poder visitar muitas outras flores sem que o pólen se perca e para, quando vários dias ou semanas mais tarde entrar uma flor da mesma espécie, poder cumprir o seu papel.


Ao nível da dispersão das sementes, as relações mutualísticas entre animais e plantas desempenham também um papel preponderante. Muitas espécies de plantas evoluíram no sentido de produzirem frutos com cores coloridas, odor intenso e um valor nutritivo elevado. Dentro destes frutos existem sementes pequenas, que podem atravessar o tubo digestivo dos animais sem se degradarem. Desta forma, essas plantas convidam diferentes animais a ingerirem os seus frutos e sementes, por forma a excretarem mais tarde as sementes num outro local.
Para além das relações entre animais e plantas, mais raramente também se estabelecem relações entre animais, como algumas aves que catam parasitas em cima de grandes mamíferos. Um outro caso muito curioso disso mesmo, é a cooperação entre uma ave da mesma Ordem dos pica-paus, o Indicador e uma espécie de texugo que habita em África. Estas aves têm a capacidade de encontrar colmeias de abelhas, mas dificilmente consegue extrai-las das cavidades em que se encontram. Por isso, atraem um texugo que com as suas garras afiadas consegue fazer o trabalho. O texugo come o mel e o Indicador ingere as larvas e a cera de que é feito o ninho. Curiosamente, a capacidade para digerir a cera depende, também ela, da existência de bactérias simbiontes no intestino da ave, que lhe fornecem as enzimas necessárias para a digestão. Na ausência de texugos, os indicadores estabelecem esta relação com humanos que também procuram o mel.

O limite entre as relações mutualísticas e outras de outro tipo nem sempre é claro. Será que os tubarões beneficiam de alguma forma da presença das rémoras que os seguem para ingerir os restos de alimento por si deixados? Se lhes fosse absolutamente indiferente seria uma relação de comensalismo. Mas em alguns casos, as fronteiras são tão ténues que pode mesmo ser difícil de distinguir algumas formas de parasitismo de outras de mutualismo. De certa forma, o mutualismo é por vezes um caso de parasitismo recíproco.


A complexidade das relações entre os diferentes seres vivos faz com que, apesar de muito se investigar nesta área da ecologia, como nas demais ciências, o aprofundar dos conhecimentos conduza a um refinar de conceitos que mesmo assim ficarão sempre aquém da complexidade da realidade.


Texto nº 02. Efeito Cascata na perda de Biodiversidade
Certas espécies desempenham um papel fulcral nos ecossistemas, e mesmo que se discuta que não têm mais valor do que outras, a perda de uma delas leva à perda de outras, criando um efeito cascata na perda de biodiversidade.
Nuno Leitão
A manutenção da biodiversidade local implica muitas vezes a manutenção do próprio ecossistema, razão pela qual as medidas de conservação e exploração dos recursos naturais têm que a promover, em prol do equilíbrio e sustentabilidade dos sistemas ecológicos.


A perda de determinadas espécies pode ter diversos efeitos nas espécies que persistem no ecossistema. O número de espécies que irá ser influenciado pelo desaparecimento de outras, e a forma como esses efeitos irão ocorrer, depende das características do ecossistema e do papel das espécies na sua estrutura.


Um "Efeito Cascata" ocorre quando uma extinção local de uma espécie altera significativamente as dimensões das populações de outras espécies, o que potencialmente pode levar à perda de mais espécies.


Este efeito é particularmente evidente nos casos em que a espécie desaparecida é um "Predador Chave", um "Mutualista Chave" ou uma Presa de um predador especialista.
Perda de um "Predador Chave"


A perda de um predador num ecossistema vai afectar o tamanho de uma determinada população de presas, embora a extensão e a forma como os efeitos se vão fazer sentir dependa de quanto esse predador limitava a população de que se alimentava.


O tamanho da população de presas pode ser controlado por outros factores para além da predação (é o chamado control-Donor, modelo que descreve as situações em que os predadores não afectam as populações de presas), e neste caso a perda do predador do ecossistema não será significativo para as espécies predadas. Os factores limitantes do efectivo populacional de uma presa poderão ser agentes como o alimento, o espaço, a competição intra ou inter-específica, entre outros, pelo que a ausência de predador poderá nunca vir a ser evidente.


Num sistema onde o número de presas é controlado pelos predadores (interacções positivas/negativas entre a presa e o predador, descrito no modelo de Lotka-Volterra), o impacto da perda da espécie predadora poderá ser significativo, especialmente se a posição desta na cadeia trófica for relativamente elevada.
Os chamados "Predadores Chave" afectam não só o tamanho da população de presas, mas também a diversidade de espécies da comunidade. Ao limitarem, quando presentes, a população de determinada espécie, os "Predadores Chave" permitem a existência de uma elevada diversidade específica. Uma determinada presa que seja a preferencial de um determinado predador, na ausência deste (ou seja, na ausência do factor limitante), pode ter uma explosão demográfica e passar a dominar os recursos do ecossistema, em detrimento de outras espécies (com outros factores limitantes), por processos de competição inter-específica, que se traduzem, muitas vezes, por uma competição exclusiva.
Os "Predadores Chave" não são fáceis de identificar e o reconhecimento destas espécies, com este estatuto essencial para o funcionamento de um ecossistema, requer muito estudo e muita investigação. A lontra marinha do Pacífico, por exemplo, que pode ser observada no Oceanário do Parque das Nações, actua como "Predador Chave" no Pacífico Norte, sendo a única espécie não humana capaz de controlar as populações de ouriços-do-mar. A sua acção impede que os ouriços dominem as costas da América do Norte e eliminem drasticamente as populações vegetais marinhas, com elevada perda de biodiversidade. Perda de um "Mutualista Chave"


As espécies envolvidas numa relação de mutualismo (interacções mutuamente benéficas, como o caso da polinização de plantas por insectos) são profundamente afectadas se uma das espécies parceiras se perder. A consequência do desaparecimento de uma espécie envolvida numa relação deste tipo é tanto mais grave quanto maior for a especificidade do mutualismo. Por exemplo, determinadas espécies de orquídeas dependem de uma única espécie de abelhas para se processar a polinização, e existem espécies de vespas que polinizam uma única espécie de figueira (Ficus spp.).


Certas espécies, os "Mutualistas Chave", podem assumir um papel de extrema importância na comunidade. No Parque Nacional de Manu, na época seca, a produção de frutos pelas plantas decresce para apenas 5%, em que somente 12 das 2000 espécies de plantas existentes continuam a produzir frutos que suportam todas aves e mamíferos frugívoros da comunidade. A perda de uma destas 12 plantas "Mutualistas Chave" pode ser catastrófica para as populações com estes hábitos alimentares.

Ao contrário do caso dos "Predadores Chave", é relativamente fácil identificar um "Mutualista Chave", havendo casos em que é suficiente a observação não experimental dos recursos utilizados pelas espécies. Num dado ecossistema, em que se identifica um "Mutualista Chave", as medidas de gestão a implementar terão um encaminhamento também facilitado. Além de se procurar favorecer o incremento da espécie essencial ao ecossistema, a promoção do aumento da sua densidade populacional traduz-se, normalmente, no aumento das populações dependentes.


Perda de Presa de predador especialista


A perda de uma espécie, geralmente, tem tanto mais impacto num predador seu, quanto maior for o nível da cadeia trófica ocupada por esse predador. As populações de predadores de topo da cadeia trófica tendem a estar limitadas pela disponibilidade de presas, ao contrário das espécies que ocupam níveis mais baixos da cadeia, como os herbívoros, que estão normalmente limitados por predadores, parasitas e doenças. Desta forma, a população do predador de topo sofrerá gravemente com a remoção de presas, que funcionam como o seu factor limitante.


Esta situação pode ser tanto mais grave para o predador de topo, quanto maior for a sua especialização alimentar, e no caso dos predadores especialistas não é relevante se a posição que ocupa na cadeia trófica é elevada ou não. Por exemplo, muitos insectos, que se encontram numa posição baixa na cadeia trófica, são predadores especialistas de uma única espécie de planta, por terem desenvolvido técnicas para superar as suas defesas, e o desaparecimento destas será catastrófico para a população de invertebrados.


Numa comunidade, as espécies mais comuns tendem a ter como predadores os mais especialistas, ao contrário do que acontece com as espécies mais raras ou endémicas. Assim, o declínio das espécies mais comuns tem normalmente um maior impacto nos predadores especialistas.
Texto nº 03. Espécies em vias de extinção - Perdidas para sempre?
Actualmente vive-se um processo de extinção em massa que está a reduzir a biodiversidade do Planeta. Apesar disso, diversas histórias de recuperação in extremis são motivo de esperança e indicam que vale a pena lutar por isso.
Júlia Almeida
Declínios e Extinções

De uma forma mais ou menos rápida, o declínio de uma espécie ocorre quando nas suas populações a mortalidade excede a natalidade e a emigração excede a imigração. Se este curso se mantiver, a extinção acontece, ou seja , a espécie desaparece de parte ou da totalidade da sua área de distribuição.

Em geral, a extinção de uma espécie não acontece simultaneamente em toda a sua área de ocorrência. Começa com extinções locais isoladas, quando as condições ambientais se degradam. Frequentemente as extinções locais são desencadeadas quando, por destruição de habitat, os indivíduos desalojados não encontram habitat adequado; começam então a ocupar habitat marginal e podem reduzir a sua taxa de reprodução ou sucumbir à predação e falta de recursos. À medida que o habitat se torna mais fragmentado, a distribuição da espécie vai-se reduzindo a pequenos núcleos populacionais isolados, com reduzido contacto com outras populações da mesma espécie. Como resultado, estas pequenas populações ficam fragilizadas e com uma capacidade reduzida de resistir às alterações ambientais.
As extinções acontecem actualmente a um ritmo acelerado. Foi estimado que diariamente se extinguem cerca de 100 espécies, a maior parte delas ainda desconhecidas para a ciência. O maior número de extinções terá ocorrido apartir do século XVII, calculando-se que desde então tenham desaparecido do nosso planeta cerca de 486 espécies animais e 600 de plantas, e que outras 3565 espécies animais e 22137 de plantas estejam actualmente ameaçadas de extinção.

O Novo Mundo e a Ásia têm a maior contribuição para o actual cenário de perda de espécies, sendo a Indonésia,India, Brasil e China os países com maior número total de espécies de mamíferos e aves ameaçadas. Quanto às plantas, o seu declínio faz-se sentir sobretudo na América do Sul e Central, África Central e Ocidental e no Sudoeste Asiático.

Embora a extinção seja um processo natural, tendo-se registado ao longo dos milhões de anos da história da Terra o aparecimento e desaparecimento de inúmeras espécies, sabe-se que mais de 75% das extinções históricas foram provocadas por acção do Homem.
Recuperar espécies em risco: uma operação por passos

Na perspectiva da conservação da biodiversidade do nosso planeta, têm-se dirigido muitos esforços no sentido de controlar a extinção das espécies.

Neste processo, o primeiro passo é identificar quais as espécies que se encontram em risco de extinção, ou seja, avaliar o estatuto de ameaça das espécies. Nesta avaliação, confundir abundância com invulnerabilidade é um erro frequente; com efeito, uma espécie em declínio pode ser relativamente comum até pouco antes de se tornar rara.

Basicamente, os declínios podem ser detectados através da avaliação da tendência populacional, traduzida na variação do número de indivíduos. Mas a contracção da área de ocorrência de uma espécie é outro um sinal de potencial problema, que também evidencia um declínio.

Numa tentativa de classificar as espécies em função do seu risco de extinção, a UICN (Union International pour la Conservation de la Nature) define diferentes categorias de ameaça para as espécies, tendo em conta critérios objectivos como a taxa do seu declínio, a dimensão da sua área de distribuição e o tamanho actual da população: Criticamente Em Perigo, Em Perigo, Vulnerável. A estas categorias estão associadas diferentes probabilidades de extinção.

Nas aves, grupo particularmente bem estudado, 11% das espécies conhecidas foram classificadas como estando ameaçadas de extinção, estando 168 catalogadas como Criticamente em Perigo, 235 como Em Perigo e 704 como Vulneráveis. Prevê-se que, se não se tomarem medidas adequadas, 400 espécies de aves desaparecerão nos próximos 100 anos, das quais 200 nos próximos 20 anos e 100 nos próximos 5-10 anos.

O segundo passo a dar no sentido de evitar a extinção é identificar as causas do declínio. Para compreender quais os factores que estão a conduzir uma espécie à extinção e como estão a actuar, é fundamental ter um sólido conhecimento de base da biologia e ecologia da espécie em causa.

Os factores que levam uma espécie ao declínio podem ser de vária ordem. A alteração do habitat (perda ou degradação) é avançada como a causa dominante das extinções. A introdução de espécies é também um factor relevante: as espécies exóticas podem predar, competir ou provocar distúrbios nas espécies indígenas, calculando-se que o impacto de animais introduzidos esteja implicado em c. 40% das extinções históricas. A sobreexploração pelo homem, por exemplo através da caça ou da pesca, é outro factor frequente de declínio. A contaminação ambiental, as doenças e a consanguinidade são ainda factores importantes.

Poucos destes factores actuam isoladamente; é frequente que exerçam efeito em conjunto, quer em simultâneo quer em sequência.

Por fim, o último passo na sequência de recuperação das espécies em perigo de extinção é inverter a tendência de declínio, removendo ou neutralizando os seus agentes. Esta intervenção, se concebida como um evento experimental, tem o poder de confirmar o diagnóstico feito e de avaliar o sucesso da operação.



São vários os processos de inversão da extinção das espécies. Frequentemente, tem de se recorrer a suplementação de recursos, quer de alimento quer de locais de reprodução ou abrigo, através de uma correcta gestão do habitat. O controle das perdas populacionais directas, resultantes de sobreexploração, predação, doença ou contaminação ambiental, que subtraem indivíduos ao efectivo populacional, é também uma medida importante; este efeito consegue-se através de legislação e educação, e de erradicação e controle de predadores, de parasitas e de competidores.

Muitas situações exigem o reforço das populações, por adição de indivíduos, podendo ser usados para tal indivíduos selvagens (translocação) ou criados em cativeiro. Esse aumento do efectivo populacional pode ser efectuado para ultrapassar os riscos de a população ser demasiado pequena ou mesmo para estabelecer de novo uma população na natureza.
São vários os processos de inversão da extinção das espécies. Frequentemente, tem de se recorrer a suplementação de recursos, quer de alimento quer de locais de reprodução ou abrigo, através de uma correcta gestão do habitat. O controle das perdas populacionais directas, resultantes de sobreexploração, predação, doença ou contaminação ambiental, que subtraem indivíduos ao efectivo populacional, é também uma medida importante; este efeito consegue-se através de legislação e educação, e de erradicação e controle de predadores, de parasitas e de competidores.

Muitas situações exigem o reforço das populações, por adição de indivíduos, podendo ser usados para tal indivíduos selvagens (translocação) ou criados em cativeiro. Esse aumento do efectivo populacional pode ser efectuado para ultrapassar os riscos de a população ser demasiado pequena ou mesmo para estabelecer de novo uma população na natureza. Ibis de crista Nipponia nippon, apesar de muitos esforços desenvolvidos no sentido da sua conservação, viu a sua população decair até um máximo de 22 aves em liberdade. Extinguiu-se no Japão, tendo gerado alguma polémica a possibilidade de se congelar o último exemplar vivo, numa tentativa de salvaguardar a hipótese de vir a encontrar no futuro uma forma de recuperar a espécie.

A Grande Borboleta Azul Maculinea arion é uma atraente borboleta europeia, cujo declínio era bem conhecido há várias décadas e que atraiu o interesse e a preocupação do grande público. Várias medidas de conservação tomadas primeiro no sentido da sua recuperação falharam simplesmente por um deficiente diagnóstico do declínio, ao minorar-se a importância de uma vital relação de parasitismo que a espécie estabelece com formigas.

Um passeriforme da Nova Zelândia Petroica traversi ilustra o sucesso de um intenso programa de recuperação. Originalmente com ampla distribuição nas Ilhas Chatham, Nova Zelândia, sofreu após a colonização europeia e a introdução de predadores no século passado uma redução drástica, que foi acentuada por posterior degradação do habitat. Nos anos 70 a população total consistia em apenas 7 indivíduos, dos quais apenas 2 fêmeas adultas. Através de um minucioso programa de recuperação, que incluiu transferência para outra ilha, manipulação de ovos e criação por adopção por outra espécie de ave, resultou um notável aumento populacional, estimando-se em 1994 uma população de cerca de 155 indivíduos.

São histórias como estas que ajudam a preparar o retorno de muitas outras espécies.
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